sábado, 7 de novembro de 2009

SOBRE MÚSICA ELETRÔNICA (AULAS 30/10 e 06/11)

Após nossa aula sobre música eletrônica, ciberpunk e cidades virtuais, gostaria de pontuar algumas poucas reflexões: 1- SOBRE MÚSICA ELETRÔNICA, PERCUSSÃO E MOVIMENTO: por que temos aquela sensação de que não podemos ficar parados ao ouvirmos o "batidão"? Então é isso, música eletrônica está associada à batida. Batida nos leva aos mais primitivos dos instrumentos musicais, os instrumentos de percussão. Na verdade, pode-se fazer percussão com qualquer objeto, obtendo dos sons mais baixos e graves, aos mais altos e agudos; do toque de duas pedras ao badalar de um sino, encontramos percussão. Então, os povos primitivos usavam desse recurso sonoro para suas celebrações ritualísticas, ou melhor dizendo, para as comemorações tribais. Os atabaques do candomblé, o berimbau da capoeira e os tambores do samba não nos deixam quietos, se não nos movimentamos de início, logo nos vem imagens de situações de uso desses instrumentos (eis a virtualidade!). E isso, também, não é difícil de entender. Ora, de forma simplista, podemos dizer que a música é composta de melodia e ritmo. E esse segundo elemento está diretamente ligado ao movimento, ao corpo, ao sentir. Por isso a música eletrônica é contagiante - até mesmo para quem não a admira, e a denomina de "bate-estaca", numa tentativa onomatopéica de verbalizar o barulho de uma estaca sendo enterrada. Em sala, acompánhamos o desenvolvimento da música eletrônica de 1857 até os dias atuais. Vimos como esse movimento pós-guerra foi obsorvido pela "indústria cultural", e como a música eletrônica acompanhou esse processo a partir dos anos 80 (Vangelis, Jean Michel Jarre, Kraftwerk, as grandes bandas dos anos 80 como A-HA, Pet Shop Boys, Erasure, etc, Paul van Dyk e os hits atuais). Vimos, também, os diferentes estilos e suas origens GOA, HOUSE, PROGRESSIVE, PSY TRANCE, etc.
2- SOBRE RAVES & COMPORTAMENTO: o ponto de partida é que não podemos entender o fenômeno "rave", a partir dos Indoors, PVTs ou clubs que conhecemos hoje em dia - e que faz parte de grande parte da população jovem. Estes últimos são realizadas, geralmente em espaços privados fechados e organizadas por um promoter, com um tema definido. Os flies que as divulgam mostram uma preocupação gráfica em tornar atrativa e competitiva aquela atividade em relações à outras no espaço urbano. Geralmente há fotos de jovens com um padrão estético de god ou goddess e atrações conhecidas - sem contar com brindes, sorteios e promoções (cardápio clonado, ingresso clonado, etc). As raves surgem num contexto diferente, ao ar livre, com panfletos informando apenas local e data, sem autoria de iniciativa - apenas uma tentativa de agrupar pessoas para estarem mais próximas da natureza e dançarem por mais de 8 horas seguidas ao som da música eletrônica. Então qual o motivo de, em um determinado momento (e em várias localidades do planeta), estes movimentos culturais terem sido proibidos. Atentem para o que escrevemos: PROIBIÇÃO DE UM MOVIMENTO CULTURAL. Por causa do comportamento das pessoas que iam a essas "festas tribais". Isso mesmo, uma sociedade civilizada não pode conceber um comportamento tribal, porque este não serviria a fins econômicos imediatos. Mas não era essa a justificativa dada para o comportamento. Atribuiu-se, então, essa proibição pela questão do uso de drogas. E, de novo, nos deparamos com uma contradição de uma sociedade dominadora, porque as drogas às quais nos referimos aqui, são as ilícitas, já que as "lícitas", a saber, cigarro e álcool, também eram utilizadas nas festas "civilizadas". Bom, não vou continuar esta digressão, porque senão fugimos do nosso tema central, mas é importante ver o quão nós somos afastados das verdadeiras essências das coisas - aquilo que Baudrillard chama de simulacro. Então rave se tornou lugar de comportamentos ilícitos, não é? Entretanto, a massificação das identidades culturais, a anulação dos indivíduos, a exploração dos meios de trabalho e de lazer não são atos ilícitos? Muito bem. E quem disse que as raves são "locais de droga"? Por que não vê-las como o local onde se livra das drogas do cotidiano: opressões, desapropriações, stress de uma sociedade capitalista doente? Mas as drogas ilíctas estão lá - isso é fato. Mas não são da rave, isto também é fato! São, então, trazidas para as raves. E de onde são trazidas? De algum lugar imaginário, que só existe na cabeça dos frequentadores das raves? Ou dos centro urbanos, onde esses frequentadores de raves vivem? Se pararmos para analisar detalhadamente as coisas com suas causas e consequências (o que, dificilmente, um sistema capitalista nos permite fazer), perceberemos que há uma tentativa de encobrir as falhas de um sistema, delegando indivíduos "responsáveis" por essas falhas. Então, não vamos analisar por que as drogas existem, mas sim culpar a quem as utiliza. Ora, isso não é, outra vez incoerente, num sistema capitalista? Sim, pois o que é produzido deve ser consumido - qual a função da Publicidade e Propaganda se não for movimentar o comércio? Então, sabendo que o comércio da droga existe, é mais "conveniente" para o sistema, enquadrá-lo em um determinado setor ou grupo, do que torná-lo público. Aliás, palavra evitada no sistema capitalista - e, paradoxalmente, a essência das raves: transcender é a palavra de ordem. Escritores e políticos norte-americanos viveram esse movimento transcendental sem imaginar que seu país se tornaria o império materialista que é hoje: Thoureau, Emersom e Walt Whitman - sim, o Whitman do "Capitain, my Capitain!". então, caros amigos, não vejamos a rave como um local de "promiscuidade" ou "criminalidade", mas de pureza e elevação espiritual. Claro que não estou falando das pseudo-raves que vemos hoje em dia, já que elas deixaram de ser um movimento contra-cultural, como citou um aluno em sala e em postagens, para ser aceita pela sociedade. Um movimento que deixou de ser naturalista para se tornar urbano. Aproveito para dizer que, de acordo com Stuart Hall, defendo que as raves deixaram de ser movimentos contraculturais e passaram a movimentos sociais, pois o caratér de radicalidade foi perdido (ou simbioticamente assimilado pelo sistema, a ponto de ser apenas mais uma festa a se ir). Assim, termino esta reflexão com uma pergunta: qual a diferença entre: (1) ir a uma rave, (2) ir a um culto religioso, qualquer que seja ele, (3) ler um livro de auto-ajuda, e (4) consultar um terapeuta? O que poderia ser uma pergunta sem propósito, acaba direcionando a fragmentação de uma sociedade dita civilizada para o princípio tribal da cibercultura: não há diferença, pois todas as práticas conduzem a um bem-viver; a diferença vai ser institucional, no caso das igrejas (2), do comércio (3) ou da academia (4). Aguardo comentários!